Estava pensando aqui hoje assistindo ao jornal: Vocês não acham que outras capitais deveriam ter sediado o BRICS no lugar do Rio?
O anúncio do Rio de Janeiro como sede da Cúpula do BRICS 2025 levanta, na minha opinião, uma questão fundamental: a distribuição geográfica de grandes eventos internacionais no Brasil.
Enquanto a Cidade Maravilhosa celebra mais um marco em sua já extensa trajetória como anfitriã global, outras capitais brasileiras observam de longe uma oportunidade perdida de projeção internacional e desenvolvimento econômico.
Já tá na hora de questionar: não seria mais estratégico descentralizar esses mega eventos?
O Problema da Concentração
O Brasil vive um ciclo vicioso de concentração de eventos no eixo Rio-São Paulo. O Rio de Janeiro lidera o ranking nacional de eventos internacionais com 58 grandes encontros reconhecidos pela ICCA em 2024, enquanto São Paulo figura como 12ª cidade do mundo em eventos internacionais. Essa hegemonia, embora compreensível do ponto de vista logístico, perpetua desigualdades regionais e desperdiça o potencial de outras capitais brasileiras.
A crítica não é ao Rio em si – uma cidade que já conquistou seu espaço no cenário mundial – mas à falta de visão estratégica que limita o crescimento de outros destinos. Como observa a Embratur, 42 cidades brasileiras sediaram eventos internacionais em 2024, um crescimento de 61,5% em relação às 26 de 2023. Isso demonstra que existe capacidade e demanda para descentralização.
Brasília: A Capital Esquecida
A escolha mais óbvia seria Brasília, que já abriga naturalmente a infraestrutura diplomática do país. A capital federal sediou reuniões presenciais do G20 em 2024 e possui o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, além de estar recebendo o P20 (Parlamento do G20) em novembro.
Argumentos em favor de Brasília:
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Representaria melhor o caráter federativo brasileiro
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Localização central facilita acesso de todas as regiões
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Infraestrutura de segurança já estabelecida para eventos diplomáticos
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Simbolismo de sediar na capital política do país
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Descentralizaria eventos do eixo Rio-SP
Fortaleza: A Gigante Subutilizada
Fortaleza possui o Centro de Eventos do Ceará, o segundo maior do Brasil em área útil com 76 mil m², capaz de receber até 30 mil pessoas simultaneamente. A cidade registrou 219 eventos em 2024 e tem infraestrutura moderna que rivaliza com qualquer capital mundial.
Por que Fortaleza seria ideal:
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Representaria todo o Nordeste brasileiro (54 milhões de habitantes)
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Localização estratégica para conexões internacionais
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Custos operacionais significativamente menores
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Oportunidade de projetar o Nordeste no cenário global
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Infraestrutura de ponta subutilizada
Belo Horizonte: O Coração Estratégico
A capital mineira ocupa a 3ª posição no turismo corporativo brasileiro e possui o Expominas, com 72 mil m² de área construída. BH está recebendo grandes eventos como a InfraBusiness Expo 2025, que projeta movimentar R$ 1 bilhão em negócios.
Vantagens de Belo Horizonte:
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Posição geográfica estratégica no triângulo SP-RJ-Brasília
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Custos operacionais mais acessíveis
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Crescente ambiente de inovação e startups
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Representaria o Sudeste além do eixo Rio-SP
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Infraestrutura moderna e crescente
Curitiba: A Capital da Sustentabilidade
Curitiba foi premiada pela União Europeia como uma das 100 cidades inteligentes e neutras em carbono até 2030. A cidade está construindo o maior centro de convenções do Brasil, com capacidade para 25 mil pessoas, e seria perfeita para um evento que debate sustentabilidade e desenvolvimento.
Por que Curitiba faria sentido:
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Alinhamento com pautas sustentáveis do BRICS
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Modelo mundial de planejamento urbano
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Representaria a região Sul
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Proximidade com países do Mercosul
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Infraestrutura de eventos em expansão
Salvador: A Força Cultural do Nordeste
Salvador é o principal destino do Nordeste para eventos internacionais e possui rica diversidade cultural reconhecida pela UNESCO. A cidade sediará grandes eventos como o Encontro Econômico Brasil-Alemanha em 2025.
Argumentos culturais e estratégicos:
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Representatividade da cultura afro-brasileira
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Patrimônio histórico UNESCO
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Principal cidade do Nordeste
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Diversificação geográfica dos eventos
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Rica tradição em grandes eventos
Florianópolis: O Futuro Tecnológico
A capital catarinense figura na 4ª posição nacional em eventos internacionais e é Cidade Criativa UNESCO da Gastronomia. Com 9 centros de convenções e sendo o “Vale do Silício brasileiro”, representaria a face tecnológica e inovadora do país.
Diferenciais de Florianópolis:
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Polo tecnológico brasileiro
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Alta qualidade de vida
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Combinação única de negócios e turismo
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Representaria a inovação brasileira
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Infraestrutura turística consolidada
O Custo da Concentração
A concentração excessiva no Rio não é apenas uma questão de justiça regional – é um erro estratégico. Enquanto o Rio já possui projeção internacional consolidada, outras capitais perdem oportunidades de:
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Desenvolvimento econômico local: Eventos como o BRICS movimentam centenas de milhões de reais
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Projeção internacional: Oportunidade de mostrar outras faces do Brasil
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Descentralização turística: Reduzir pressão sobre destinos saturados
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Desenvolvimento de infraestrutura: Investimentos em regiões que mais precisam
A Embratur reconhece que o turismo de eventos tem forte impacto econômico, com participantes gastando até três vezes mais que turistas de lazer. Por que concentrar esse benefício sempre nas mesmas cidades?
O Brasil possui oito capitais com infraestrutura e capacidade para sediar eventos do porte do BRICS. Cada uma oferece características únicas que poderiam enriquecer a experiência dos participantes e projetar diferentes aspectos da identidade brasileira.
É hora de superar a mentalidade que enxerga apenas Rio e São Paulo como “cidades globais”. Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Florianópolis e Recife não são apenas alternativas – são oportunidades de mostrar ao mundo a verdadeira dimensão e diversidade do Brasil.
A próxima vez que o país sediar um grande evento internacional, que seja uma oportunidade de projetar uma nova capital, desenvolver uma nova região e mostrar uma nova face do Brasil. O Rio já é famoso o suficiente – é hora de dar chance aos outros.